Segunda, terça, quarta. Já não sei mais que dia é hoje, apenas sei que estou aqui, nesse quarto escuro e quente tem um bom tempo. Já faz dias também que não a vejo. Ela vinha aqui todos os dias para me ver e continuar suas pesquisas.
Clotildes Assis. Apesar desse nome horrível e que se imagina uma pessoa feia, velha e gorda ao falar, ela era totalmente o contrario. Pele lisa, loira, mas um loiro escuro não aquele loiro oxigenado, posso até dizer também que tinha curvas perfeitas.
Não me lembro quando vim para cá, apenas me lembro de estar aqui e ela estar comigo ao meu lado com algo gelado e um tanto incomodante em meu tórax, mas eu gostava. Sinto falta tanta falta daquela sensação do gelado, mas não tanto quanto a falta dela ao meu lado com seu sorriso que me fazia sentir quente novamente.
Desde que me mudaram, não a vi mais, não vejo nem mesmo a luz que vinha do canto da porta. Esses dias, barulho de algo sendo jogado, algo não, muitas coisas sendo jogadas em cima do meu quarto. Não chega mais correntes de ar aqui, me sinto desfazendo. Não. Liquefazendo seria o correto.
Acho que não vou vê-la nunca mais. Clotilde Assis Pedrosa, a mulher mais bonita que vi com um nome tão feio. Um nome que me dava ânsia de vomito só de ouvir.
O que é essa sensação de estar sendo devorado por minúsculas bocas por todo o meu corpo? Como eu vim parar nessa situação? Porque ninguém me escuta?
Clotildes Assis, minha mulher do necrotério.
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